Introdução à Variância nos Spins
Para que um jogador se estabeleça vencedor, de forma constante e a longo prazo, no mundo dos spins e do pôquer em geral, é essencial compreender inúmeras nuances. Uma das mais complexas, e também a maior fonte de dor de cabeça quando não compreendida, é a variância.
Compreendendo a Variância
Aqui vão algumas noções gerais para entender este conceito:
Conceito de Equidade e EV (Valor Esperado)
Conforme a imagem, quando apostamos todas as nossas fichas no começo de um spin regular (500 fichas) segurando qualquer QQ e somos pagos por um jogador segurando qualquer 55 e com a mesma quantidade de fichas, possuímos, antes de todas as cartas baterem (flop, turn e river), 80.52% de equidade (valor esperado).
Neste sentido, toda vez que nos depararmos com este cenário, podemos assumir que, no longo prazo e na média, ganharemos 80.52% do pote (EV). E a curto prazo? Bom, a curto prazo é outra história, já que do flop até o river podemos ter as mais variadas distribuições de cartas, como ganhar com uma trinca ao vermos outra Q no flop, perder para uma trinca se vermos um 5 no turn, ganhar apenas com o par da nossa mão, perder para uma sequência de Ás a 5 no turn, etc. A questão é que, em uma amostragem grande o suficiente para este cenário prevalecer, ganharemos em torno de 80% com nossa mão.
O mesmo serve para um cenário de “cara ou coroa” no qual escolhemos “cara” e jogamos a moeda: se o fizermos 50 vezes, é possível que haja discrepância do resultado em relação à nossa equidade (50%), mas se o fizermos 1 milhão de vezes, é muito mais provável que o resultado se aproxime dos 50% de vitórias esperadas.
Desta forma, em termos simplificados, já podemos assumir que “merecemos” ganhar exatos 80.52% do pote. Já que no pote há 1000 fichas (500 nossas e 500 do oponente), seriam 805.2 fichas esperadas (EV Chips).
E aqui é que entra a variância: se ganharmos esta mão, o que é lógico pois somos favoritos, ganharemos 1000 fichas, e não somente as 805.2 que merecemos, e teremos “runnado acima” do EV pois nosso “net won” em fichas (lucro líquido) será de 1000, e “merecíamos” apenas 805.2. Logo, costuma-se dizer que “runnamos” acima. Do contrário, ao perdermos a mão, nosso net won será de -500, quando nosso EV Chips seria de 805.2, logo teríamos “runnado” abaixo do esperado.
O mesmo se aplica para todos os cenários de “all in” com cartas por vir. Segue outro exemplo:
Cenários de “Coin Flip”
Qualquer cenário em que as equidades estão muito próximas (~50% x ~50%) é comumente chamado de “coin flip”. Por exemplo, ao apostarmos todas as nossas fichas (500) segurando AK naipado e sendo pagos por JJ, ao ganharmos acabamos tendo uma “variância positiva”. Em termos de equidade, deveríamos ganhar apenas próximo de 500 fichas (metade do pote), que é o que ganharemos no longo prazo ao enfrentarmos cenários similares, mas ganhamos 1000 fichas (o pote todo). Esse acontecimento pode se manifestar em uma sequência razoável de “coin flips”, tanto positivamente quanto negativamente, ocasionando que ganhemos ou percamos bem além do que nossa equidade nos garante no longo prazo.
Isso quer dizer que o que aconteceu é imutável? Pelo contrário! A única garantia que temos nas modalidades de pôquer é que, se seguirmos tendo as melhores equidades possíveis, lucraremos no longo prazo, jogando e tomando as melhores decisões dentre todas as possíveis.
Analisando Eventos em Sequências Maiores de Mãos
Agora vamos analisar os eventos em uma sequência maior de mãos não-isoladas:
Exemplo de Gráfico Mensal
Porém ao analisarmos pequenas partes de amostragens deste mesmo gráfico, veremos que os ganhos não são tão lineares quanto aparentam ser. Vejamos o seguinte lastro de 358 spins jogados em um dos dias: (considere a linha verde o “netwon” e a amarela o “ev chips”)
Como podemos ver, o comportamento do ganho real (netwon) foi oposto ao valor esperado (ev) até a metade do dia para, só então, começar a refletir as equidades encontradas na mesa até o fim do dia. Vejamos o gráfico seguinte:
Neste dia, nota-se uma distribuição de cartas que impediu o jogador de conseguir qualquer equidade positiva, o que é comumente denominado “variância por distribuição”. Nesse cenário, nos encontramos em diversas situações onde, por exemplo, o correto seria apostar tudo com nossa mão, mas os adversários acabam recebendo mãos melhores para nos pagar, e isso com uma frequência razoável de acontecimento. Exemplos incluem QQ contra KK, AT contra AK, KT contra QK, etc. Sem contar outros cenários onde nossas mãos de valor vão enfraquecendo até o river, de acordo com as cartas que batem, nos forçando a desistir e entregar o pote, de acordo com a jogada do adversário, ou simplesmente perdendo no “showdown”.
Por fim, além de não alcançar boas equidades durante todo o dia, também percebemos que perdemos mais do que deveríamos, provavelmente tomando algumas “bad beats” ou “variância por runouts”, onde estávamos na frente em termos de equidade e o adversário encontrou as cartas que buscava, ou simplesmente perdendo muitos flips e “corridinhas” (ex. AKs contra 98s, A2 contra QK, etc.).
Assim, com estes gráficos notamos que, ao construírmos um gráfico mensal de jogos, de forma ganhadora, precisamos ter noção dos percalços diários que as cartas apresentam, justamente para não confundirmos fatores aleatórios e dispersos com fatores mais fixos e controláveis.
Dito isto, podemos analisar uma ótima possibilidade para o jogador de spins: as pools!
Pools no Poker Spins
Pools são comunidades/organizações gerenciadas que oferecem segurança de recebermos o valor monetário ($) que realmente valem nossas “ev chips” conquistadas ao longo do mês (período). Assim, ao encerrar determinado período, as informações são enviadas para a pool que, ao executar os devidos cálculos, informa quem tem valores a receber ou a enviar.
Funcionamento das Pools
Por exemplo, no gráfico acima, notamos que houve uma “variância positiva”, mas de quanto? Observa-se que foram ganhas 24.000 “EV chips”, enquanto o “net won” foi de 35.000. Logo, o “chip EV”, que é o valor médio de “EV chips” ganho por torneio, foi de 66. Mas como o jogador fez 97 fichas por mesa de “net won”, a diferença será enviada para a pool após o fechamento. Claro que este é um dia isolado e, somando com os demais, o valor pode aumentar ou diminuir, mas a título de exemplo, existem calculadoras que demonstram exatamente quanto se espera ganhar com determinadas “EV chips” em determinado “buy-in” ou “stake”. Já o valor ganho pode ser visto no próprio “tracker” utilizado pelo jogador ou pela pool, após os cálculos terem sido feitos e demonstrados na planilha.
Obviamente, as pools envolvem diversos trabalhos de gestão e, para isso, cobram taxas administrativas dos jogadores, mas nada que afaste a atratividade dessas organizações para uma vida mais saudável a curto/médio prazo para o jogador, que não fica refém das variâncias que podem perdurar mais do que se imagina. Afinal, todos sabem do longo prazo, mas poucos sabem que ele é mais longo do que comumente se gostaria.
Conclusão
Já que o pôquer é um jogo repleto de complexidades e desafios próprios, é importante compreender o máximo de nuances para não confundirmos habilidade com sorte, e vice-versa. Ao termos uma visão mais “fria” das situações, evitamos replicar erros evitáveis e temos um médio-longo prazo mais frutífero para nossa conta bancária.
Além do mais, na modalidade dos spins, não é necessário perdurar longos meses, às vezes anos, ganhando menos do que se deveria, pois as pools servem a esse propósito. Porém, o mesmo vale para o contrário.
Obviamente, as pools não são uma obrigatoriedade na vida do jogador, e muitos jogadores de spin passam a vida inteira sem estar numa pool e têm sucesso. Mas, apenas tendo consciência de sua existência, é uma porta aberta no grande mundo de possibilidades dos spins no pôquer.
Bom trabalho e boa sorte!
by M1ND4G41NST.
